Entrelaço o poema de João da Cruz, “Pastorinho” e a Mensagem de Fátima, para olhar de uma forma renovada para a entrega amorosa de Jesus, que ainda hoje espera aceitação e acolhimento !
Um pastorinho está sozinho e com pena Longe do prazer e do contentamento Tem na sua pastora posto o pensamento E muito lastimado o peito do amor | Tem pena do coração da tua mãe que está coberto de espinhos Que os homens ingratos a todos os momentos lhe cravam Sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar.[1] | ||
Não chora porque o amor o feriu Que não lhe dá pena ver-se assim afligido Ainda que o coração esteja ferido Mas chora por pensar que está esquecido | A senhora está a chorar[2] | ||
Que só de pensar que está esquecido Da sua bela pastora com grande pena Deixa-se maltratar em terra alheia O peito do amor lastimado | Ela era bonita[3] | ||
E diz o pastorinho: ai infeliz De quem se ausentou do meu amor E não quer gozar da minha presença O peito por seu amor tão lastimado | Se fizerem o que vos digo… terão paz[4] | ||
E ao fim de um tempo subiu A uma árvore abrindo os belos braços E morto ficou prendido deles O peito do amor tão lastimado.[5] [6] | |||
Até aqui estiveram em diálogo a poesia de São João da Cruz e breves notas da mensagem de Fátima. Ler e meditar nestas verdades provocam um desejo de resposta em sintonia. Ainda que os desejos superem as realizações, não é inútil expressar, com sonhos, a nossa gratidão. Por isso…
Também eu rezando te quero falar Que inútil não pode ficar o vosso tanto amor Que não seja vão o meu viver e o meu pensar Que a vossa vida em mim sej’ó meu valor | ||||
Porque permaneces aí meu bom Jesus? E tu assim minha doce mãe? Para que me afirme na confiança? Para que de pé esteja eu também? | ||||
Que tenho eu que a minha amizade procuras? Como, tão pobre, aceitas uma como eu? Que milagre é este o da oração? A tua vida vence em mim, ainda que sob um véu | ||||
Que tenho eu que a minha amizade procuras? Comove-me a tua humildade Para ouvir as minhas dores esqueces as tuas Para que que viva desde ti, da tua infinita claridade | ||||
Quem ama sofre é a vossa lei Quem soubesse dizer a beleza deste viver! Fico também eu, como pássaro solitário, a cantar Pela certeza do céu, convosco, neste sereno padecer. |
[1] Cf. MEMÓRIAS da Irmã Lúcia, p. 192 (2007)
[2] IRMÃ LÚCIA a memória que dela temos – Irmã Maria Celina, p.44 (2005)
[3] Documentação crítica de Fátima, seleção de documentos (1917-1930), p. 78 (2013)
[4] Cf. MEMÓRIAS da Irmã Lúcia, p. 208 (2007)
[5] Un pastorcico, San Juan de la Cruz, em Obras completas (2009) – tradução livre
[6] Cf. MEMÓRIAS da Irmã Lúcia, p. 26 (2007)