Por que deveremos dedicar-nos à Pastoral Juvenil, se, aparentemente, bastaria sermos cristãos coerentes e verdadeiros? Esta e outras questões mais aprofundei a propósito da minha participação numa formação sobre a pastoral juvenil.
Convidado pela Congregação das Irmãs da Nossa Senhora da Caridade e do Bom Pastor, tive a alegria de ter participado no Encontro Nacional de Formação «Para uma pastoral juvenil sinodal», que se realizou no Seminário de Leiria, entre 8 e 11 de setembro. Este encontro foi promovido pela Comissão Episcopal do Laicado e Família, contando com a presença do D. Joaquim Mendes; foi orientador desta formação o Pe. Koldo Gutierrez Cuesta, Salesiano, um dos grandes especialistas em Pastoral Juvenil, em Espanha, autor de diversas obras neste domínio.
Confesso que não ia com muitas expectativas. Aceitei o convite porque sempre tive muita dificuldade em dizer “não” a uma freira. E, assim, vou-me envolvendo em várias atividades pastorais que, afinal de contas, até são gratificantes.
Sempre considerei a Pastoral Juvenil, enquanto disciplina, chamemos-lhe assim, um tanto ou quanto aborrecida e até inútil. E porquê? Porque entendia (e ainda entendo, mas não de uma forma tão redutora) que a melhor Pastoral Juvenil é sermos, nós, os mais adultos, «luz do mundo e sal da terra», isto é, sermos cristão coerentes, verdadeiros, justos, misericordiosos e alegres. Sim, alegres. Jesus ressuscitou ou não?!
Ser «luz do mundo e sal da terra», com simplicidade (não de um modo presunçoso, arrogante e autoritário ou paternalista) e autenticidade, praticando as Bem-Aventuranças, em Fé, Esperança e Caridade, ainda continua a ser para mim, a melhor pastoral (Juvenil, ou outra qualquer). Para tal, o Encontro permanente com Jesus Cristo, na oração e na prática sacramental, é essencial.
Bem, a verdade, é que gostei muito daquele intenso encontro de quatro dias! Tenho que admitir. Foi uma revelação.
Como resumi-lo nas linhas que seguem? Vou tentar. A verdade é que tenho 56 páginas de apontamentos pessoais pelo que será mais adequado destacar, hoje, uma das dimensões que mais me impactou.
Antes de mais, será necessário assumir, como ponto de partida, que a pastoral, seja ela qual for, tenha de ser sinodal; assim, nesta linha, aplicar-se-á a sinodalidade à própria pastoral juvenil. E fazer sínodo, como nos disse o Papa Francisco, é caminhar na mesma direção, observando três verbos: Encontrar, escutar e discernir. E, destes três verbos, surgem quatro conceitos operatórios que importa refletir: acompanhamento, discernimento, missão e sinodalidade. São, pois, vemos bem, quatro importantes palavras no magistério do Papa Francisco.
Nesta nova visão, a sinodalidade apresenta-se, pois, como «um modo de ser e de fazer na Igreja», e a Pastoral Juvenil, por sua vez, apresenta-se com uma pastoral de registo vocacional. E a vocação cristã poderá assumir, na diversidade, diferentes expressões.
Neste contexto, fascinou-me, pois, a seguinte reflexão do Pe. Koldo, que aqui resumirei:
A lógica do dom
No centro de todo itinerário pastoral ou catequético, assim como no centro da própria experiência da Encarnação de Jesus, está o dom de si. O Senhor deu a sua vida por amor.
O Papa Francisco propõe, pois, uma antropologia do dom face a outras antropologias baseadas exclusivamente no ego, na autoreferencialidade ou na excelência. A antropologia do dom tem um caráter profético num mundo fundado sobre «uma antropologia da indiferença»: tornamo-nos incapazes de nos compadecer com o choro dos outros. Não mais choramos perante do drama dos outros, nem nos interessamos em cuidar deles, como se tudo fosse responsabilidade de outros. E isso não nos diga respeito; ou se o fazemos, fazemo-lo de um modo superficial, e logo esquecemos. Nada, pois, fazemos.
Onde se funda essa antropologia? Na missão. O Papa Francisco afirma «Eu sou uma missão». Nessa linha, a missão está contida na expressão «eu sou» (afirmação tipicamente antropológica). Por isso, a antropologia do dom iluminada pela Missão leva-nos a sair de si, de nos próprios, e a sermos para os outros e com os outros.
O dom leva a sair de si, ao êxtase; por isso, o Papa Francisco propõe este critério de vida cristã: a tua vida é para os outros; e «a tua vocação guia-te a dar o melhor de ti para a glória de Deus e para o bem dos outros». A questão não é só fazer as coisas, mas fazê-las com sentido, com uma orientação: para bem dos outros!
Fico-me, hoje, por aqui, na apresentação sucinta da antropologia do dom, enquanto elemento fundamental para a Pastoral Juvenil (e Vocacional).
Num próximo texto, abordarei outro aspecto que poderá valer a pena partilhar.