Mar 21, 2023 | Cultura, Cultura no feminino

Jurista . Carmelita Secular

A alegria de acreditar de Madeleine Delbrêl

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(A Serva de Deus)

A Serva de Deus Madeleine Delbrêl, mística e assistente social, viveu como cristã leiga no meio das realidades do mundo, elegendo, especialmente, as mais secularizadas e ateias. Depois do encontro com Deus — na realidade, dizia, «foi Ele que me encontrou» — tudo fez por transmitir aos outros a alegria da união Deus e da aventura missionária da Igreja.

Anne-Marie Madeleine Delbrêl (mística cristã, assistente social, ensaísta e poetisa) nasceu a 24/10/1904 em Mussidan (Dordogne, Nova Aquitânia, França), sendo filha única de Jules e Lucile Delbrêl.

Em 1919, com a idade de quinze anos, declara-se ateia, o que não é de admirar, uma vez que seus pais não eram religiosos. Com a idade de dezassete anos, apaixona-se por Jean Maydieu (nascido em 1900, em Bordeaux, no seio de uma família da burguesia católica local), o qual acabou por ingressar nos dominicanos, sendo hoje conhecido como um dos teólogos dominicanos, dos mais respeitados em França).

Jean Maydieu, quatro anos mais velho, era, na altura, estudante de engenharia, inteligente, profundo e atraente. Os dois eram vistos como comprometidos.

No entanto, Jean desaparece de repente da vida de Madeleine para seguir a sua vocação religiosa, tendo ingressado na Ordem Dominicana.

Sem duvida que esta brusca separação lhe causou um profundo desposto, sobretudo porque Jean Maydieu nunca mais voltou a comunicar-se com ela.

E este desgosto ficou patente nos seus poemas e nos seus escritos, onde procura um sentido para o sofrimento e a fragilidade, sentimentos estes que prepararam a sua conversão.

A Conversão de Madeleine Delbrêl

Podemos afirmar que Madeleine Delbrêl sofreu a influência de Jean Maydieu, na sua «tempestuosa conversão», (nas suas palavras), em 1924, com a idade de 20 anos.

Segundo uns, foram sobretudo dois factos, que contribuíram para esta sua conversão: i) primeiro, o facto de o seu noivo (Jean Maydieu) a ter abandonado para ingressar num convento dominicano, em 1923; ii) segundo, a morte de seu pai, em 1924.

Porém, uma análise mais profunda defende que a vida de Madeleine D. se apresenta marcada por três conversões, três «momentos decisivos», nas suas próprias palavras: i) a primeira, e muito evidente, «quando uma conversão violenta se seguiu a uma razoável busca» – Madeleine tinha, então, vinte anos[1]; ii) A segunda  foi «a explosão do Evangelho», o livrinho feito, «não para ser lido, mas para ser recebido e vivenciado por nós» – Madeleine tinha, então, vinte e cinco anos; iii) A terceira conversão: «O ateísmo: meio favorável para a nossa própria conversão». Este «momento decisivo» prolongar-se-á por trinta anos, desde 1933 até à morte de Madeleine (ocorrida em Ivry em 13 /10/1964).

Para Madeleine, a conversão inspirava uma mudança radical, conforme deixou exarado nos seus escritos, passando a citar-se: «A conversão é um acontecimento violento. Desde suas primeiras páginas, o evangelho chama à metanoia: convertei-vos, isto é: voltai-vos, já não olheis para vós mesmos, voltai vosso olhar para mim».

(…) «Conversão é um momento decisivo que nos distancia do que sabemos sobre a nossa vida, a fim de que nós, olhos nos olhos com Deus, aprendamos dele o que Ele acha de nossa vida e o que quer fazer dela».

A sua obra

Profeta do Evangelho em terra estranha[2]

Desde 1926, Madeleine Delbrêl decidiu seguir o seu próprio rumo pela mão de D. Lourenço, seu Director Espiritual e vigário da paróquia de Santo Domingo, em Paris. Buscou inspiração em Santa Teresa de Ávila, que sugeria pensar silenciosamente em Deus, pelo menos cinco minutos por dia. Não obstante ter desistido, a certa altura, de se tornar carmelita descalça, continuou a inspirar-se em Santa Teresa de Ávila.

E em 1932 iniciou os seus estudos de Assistente Social, profissão que exercia quando rebenta a Segunda Guerra Mundial (1939-45).

Em 15/10/1933 (dia de Santa Teresa de Jesus) Madeleine Delbrêl funda uma comunidade laical na paróquia de Ivry-Sur-Seine, fundando-se na Bem Aventuranças. A cidade de Ivry era pagã e marxista, marcada pela industrialização.

Madeleine Delbrêl começou a trabalhar com duas amigas num centro de assistência social. Trabalhava lado a lado com comunistas, vivenciando os contrastes típicos da época e, neste aspecto, assemelha-se a Simone Weil.

No entanto, rejeitava com veemência a doutrina comunista, em si, por se fundamentar em alicerces ateus e não católicos.

Acerca da obra e da ação de Madeleine Delbrêl em Ivry, (onde faleceu em 1964), vale a pena debruçar-nos, posteriormente, atenta a riqueza da sua ação e o seu contributo para a Igreja Católica.

A 12 de Maio de 1993, a Igreja deu entrada ao processo de beatificação de Madeleine Delbrêl, tendo esta sido declarada SERVA DE DEUS.


[1] cf. Ignacio Husillos Tamarit, OCD, citando o Padre Jacques Loew, OP, in Revista de Espiritualidade, nº 256/257, Julho-Dez. 2005, pg 433.

[2] Parafraseamos Tamarit, como na nota anterior, ob. e loc. cit.

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