ENCONTRO DO PAPA FRANCISCO COM OS JOVENS UNIVERSITÁRIOS
Universidade Católica Portuguesa, Lisboa
Manhã de quinta-feira, 3 de agosto de 2023
Santo Padre, bom dia!
O meu nome é Beatriz, tenho 27 anos, sou de Lisboa e sou aluna de Filosofia na UCP em Braga, no norte de Portugal. Estou muito agradecida pela possibilidade de lhe dirigir algumas palavras. Quero agradecer-lhe o trabalho que tem feito pela Igreja e pelo Mundo, onde se inclui o projecto da Economia de Francisco. Agradeço os múltiplos convites de aprofundamento e de missão conjunta. Agradeço por encetar caminhos, por provocar a reflexão, por nos escutar, por nos responsabilizar, por nos encorajar e depositar confiança em nós, jovens membros da Economia de Francisco.
Os meus estudos em Filosofia vêm no culminar de um processo longo de discernimento. Fui percebendo que, qualquer que seja a forma vocacional que a minha vida tome, o meu desejo de ser madura passa sempre por ser cuidadora. Muito especificamente, senti-me chamada por Deus a ajudar a erguer os corações feridos pelo pecado. Nesse sentido, ao longo destes anos de vida cristã, depois de uma conversão tardia em 2015, fui tendo várias experiências, que me levaram a concluir que é a partir do campo da cultura que me sinto chamada a ser abençoada por Deus, a descobrir-me, a descobri-Lo e a actuar.
Penso que a situação de pobreza ambiental e social em que nos encontramos pode e deve ter a humildade como modelo de análise do problema e da solução. A forma que encontrei para entender estas crises foi pensar nelas como um problema de escala: estamos fora de nós, fora do nosso tamanho, longe daquilo que somos chamados a ser como criaturas. “É estreita a porta do Céu” (Lc 13, 24). Por isso, encontro como uma grande prioridade recuperarmos, com a graça de Deus, a proporção própria da beleza da Sua Criação.
Acredito profundamente na simplicidade do modo de proceder dos Apóstolos como forma de manusear e esperançar estas crises, cuidando das feridas infligidas. Como fermento no meio da massa, como sal da terra, é na cultura da aldeia, na cultura das pessoas, na cultura da terra e dos cantares que desejo estar, vigilante e em comunhão com a Igreja, em prol de uma Cultura Boa e Sã. Uma grande confirmação que tenho é perceber que, antes da minha conversão ao Deus de Jesus Cristo, já o Espírito Santo me encaminhava como baptizada para aqui. Desse tempo guardo também um grande amor à pergunta do que significa viver, ser Homem e qual o sentido do nosso sofrimento.
Assim, a Filosofia surge como o caminho que me foi proposto por Deus para me capacitar para assumir cada vez mais esse cuidado pelos meus irmãos e por mim, por quem Jesus Cristo tanto sofre. Tenho vindo a descobrir a grande potência do estudo da filosofia para trabalhar as virtudes, mas também para criar laços de amizade, numa busca conjunta da Verdade, como forma de anunciar a Boa Nova de Jesus, e para combater o desenraizamento cultural.
Em português temos uma expressão que usamos quando queremos ajudar alguém: chamar à razão. Desejo que ela esteja ao serviço da Comunhão. Assim, como agente cultural num sentido largo, vejo alegria em levar a arte de contemplar para o meio das pessoas. Desejo ajudar a pensar e a viver a vida a partir de princípios de Caridade e de Paz. Procurar o caminho da vida pela Verdade, que é Cristo. Como nos aconselha Santo Inácio, ajuda-nos o compromisso com o pouco, pequeno e possível. Neste momento comprometo-me a terminar o curso de Filosofia, com um aproveitamento efectivo e afectivo. E, para isso, é imprescindível uma boa rotina de oração, para crescer em confiança no Senhor, na Sua providência e em abertura ao Espírito Santo no dia a dia. Alimento em mim um grande desejo de dar nova forma às catequeses, explorando o melhor que a humanidade na sua integralidade tem para oferecer. Isto parece-me ser necessário e suficiente.