Aproximam-se a passos largos os dias de Verão. A necessidade e o desejo de férias grandes são grandes. Desde que terminaram as últimas, quase todos estamos a pensar nas férias deste ano. Ou mesmo todos.
O turismo, sendo uma atividade de lazer, está relacionado com a viagem em si, mas não exclui as motivações associadas à viagem, nomeadamente de caráter pessoal ou profissional.
Além de promover o bem-estar pessoal e familiar, quando praticado de forma ética e responsável, o turismo pode também ser uma poderosa força para a promoção da paz e do entendimento mútuo entre as pessoas, as comunidades e as nações. Eu incluo-me nos que pensam assim. O Código Mundial de Ética do Turismo, adotado pela Organização Mundial do Turismo, em 1999, serve como guia e garante de que as atividades turísticas respeitem o meio ambiente, as tradições e culturas locais, e contribuam para o desenvolvimento sustentável e a prosperidade das comunidades anfitriãs. Este código de apenas dez artigos não é juridicamente vinculativo, mas oferece um conjunto de princípios que visam, por um lado, maximizar os benefícios económicos, sociais e culturais do turismo e, por outro, minimizar os possíveis, e cada vez mais temidos, impactos negativos.
Impossível, pois, não valorar os benefícios. Entre tantos, destaque-se a sua contribuição para a compreensão e respeito mútuo entre Homens e Sociedades, promovendo valores éticos e comuns à humanidade, num espírito de tolerância e de respeito pela diversidade das crenças religiosas, tradições, leis, usos e costumes do país de acolhimento. Ao seguir estes princípios, os governos, a indústria turística, as comunidades locais e os próprios turistas podem trabalhar juntos para construir um futuro onde o turismo promova a compreensão global, a conservação e o enriquecimento do património e a paz mundial.
Temos todos, certamente, experiências várias de múltiplas viagens, sejam elas pequenas ou grandes. Viajar permite-nos conhecer novas realidades, novos países, povos, línguas, culturas e religiões. Partilho uma experiência pessoal de uma viagem recente a Malta, pequena ilha no Mediterrâneo, onde vivem pessoas de diversas culturas e religiões, que ali recebem turistas de todo o mundo, e que é, quanto a mim, um testemunho do poder unificador do turismo. Certamente é necessário mitigar alguns impactos negativos. Contudo, os turistas que visitam esta Ilha rica pela sua história, património arquitetónico e águas cristalinas, levam consigo muito mais do que fotografias e memórias; levam a experiência de uma comunidade, que pela sua diversidade vive em serenidade e harmonia, construindo um futuro de paz suportado na diversidade de crenças, raízes, tradições e cor de pele.
Malta foi para mim um oásis no meio da sofreguidão e da competição entre pessoas da mesma comunidade ou empresa. Olhar para Malta fez-me crer num futuro multidiverso e acolhedor ao mesmo tempo. Fez-me crer, sobretudo, que o futuro já está cá, abrindo-nos as portas e convidando-nos a entrar e a disfrutar.
A convivência pacífica em Malta é um exemplo inspirador. As ruas de La Valletta, a capital, são um mosaico de influências europeias, norte-africanas e do Médio Oriente, onde igrejas católicas se erguem ao lado de templos islâmicos, por exemplo. Por razões afetivas e de proximidade espiritual olhei, mirei e admirei a Igreja do Carmo, construída com ardor e destruída pelo ódio. Foi, porém, reconstruída e alindada logo após a II Guerra Mundial. Encontra-se no centro histórico de La Valleta, rodeada de templos de outras religiões. É uma visita obrigatória. Ali, no Carmo e no seu entorno, mais uma vez, o respeito mútuo é a norma, não a exceção. Aliás, isso reflete-se – mais uma vez – na forma como os cidadãos malteses nos recebem a nós, visitantes: com abertura e curiosidade genuína.
Percorrendo a serenidade dos bairros de La Valetta e contemplando os vastos horizontes marítimos da Ilha, lembrei a Mensagem do Dicastério para a Evangelização publicada no dia 28 de maio, por ocasião do 45º Dia Mundial do Turismo, a celebrar em 27 de setembro deste ano (2024), salienta aquele texto o potencial do turismo para a construção da paz. Refere que, apesar de se viver «num tempo tão conturbado como o nosso, não se poderia pensar numa escolha melhor para oferecer, a quem vai viajar, um momento de reflexão e de compromisso pessoal. O intercâmbio cultural entre os povos, que encontra no turismo a sua forma privilegiada, pode também transformar-se num compromisso concreto a favor da paz»[1]. Este documento, assinado por D. Rino Fisichella, Pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização (Santa Sé), que se ocupa do turismo religioso, pretende contribuir para que a mensagem de paz, chegue também aos que trabalham no setor do turismo, e recorda com gratidão os sacerdotes e leigos que se «dedicam a tornar o turismo e as peregrinações ativos e fecundos»[2].
Para o Vaticano, a atividade turística pode gerar um «compromisso de fraternidade», de forma a criar uma rede de «mensageiros da paz» que facilitem a «reabertura de territórios cheios de história, cultura e fé»[3]. Por outro lado, «pode favorecer a recuperação das relações interpessoais pelas quais todos nós sentimos uma profunda saudade. Trata-se de recuperar e promover, além da tecnologia, essa “cultura do encontro», tão «fortemente apoiada pelo Papa Francisco»[4].
Enquanto turistas façamos o nosso papel, promovendo e contribuindo decisiva e intencionalmente para a paz.
[1] Dicastério para a Evangelização, Seção sobre Questões Fundamentais da Evangelização no Mundo (28 de maio 2024), Mensagem para o 45° Dia Mundial do Turismo intitulada “Turismo e paz”. Vatican News (https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2024-05/mensagem-dicasterio-evangelizacao-dia-turismo-paz.html )
[2] Ibidem.
[3] Ibidem.
[4] Ibidem.