Set 3, 2024 | Perspetivas

Jovem Carmelita Descalço

A espiritualidade mariana sacerdotal

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Maria, mãe de Jesus, é importante para a nossa vida humana e espiritual? Esta é a pergunta chave para este artigo. É importante na medida que cada um possa dela aprender a viver melhor os valores evangélicos e como modelo imitar as suas virtudes.

No mundo da espiritualidade cristã, Maria não é o único modelo a imitar, contudo ela é a mãe de Jesus, o que faz dela uma mulher especial. Portanto, o mais importante é que viver uma espiritualidade mariana pode ajudar cada batizado, cada crente, a encontrar-se com os valores evangélicos, e isso é o mais importante, pois as espiritualidades que a Igreja propõe tem a sua raiz no Evangelho e são dadas como um dom de Deus. Porém, o sacerdote tem a importante missão de mostrar o rosto de Deus à humanidade, através do testemunho da sua vida e na sua missão de evangelização. A nosso ver este testemunho e missão só poderão ser autênticas se estiverem em união com Maria, como dizia já o professor Francisco Maria Melús: «Na medida em que Nossa Senhora tiver um lugar e um espaço nos nossos corações, nas nossas famílias, como tem nos nossos santuários…, seremos capazes de revelar aos homens o verdadeiro rosto de Deus»[1].

Maria é uma figura importante na vida espiritual de cada cristão e, certamente, leva cada um a uma relação mais autêntica e mais profunda com Jesus, por que só quando tivermos, diante do nosso olhar espiritual, a imagem mais perfeita e clara da Virgem Maria, poderemos ser melhores cristãos, com ela aprendemos a saber melhor o que devemos ser[2].

Há um axioma que se aplica especialmente ao sacerdote: «O que Maria é, nós devemos tornar-nos»[3]. A missão do sacerdote só será mais completa se tiver Maria como suporte, e, Maria, a mulher atenta às necessidades de cada um, procura sempre ajudar a quem a ela recorre. Por isso o sacerdote é convidado «a olhar para Maria como o modelo perfeito da sua existência»[4].

Acreditamos, pois, nas palavras do Papa Paulo VI ao dizer que «a nossa época pode bem dizer-se era de Maria»[5]; ou como dizia João Paulo II: «Nós todos, […], os que formamos a geração hodierna dos discípulos de Cristo, desejamos unir-nos a Ela de modo particular»[6] e como dizia o Papa Francisco: «Ao pé da cruz, na hora suprema da nova criação, Cristo conduz-nos a Maria; conduz-nos a Ela, porque não quer que caminhemos sem uma mãe»[7].

Portanto, nesta era em que vivemos podemos unirmo-nos a ela de modo particular, precisamente, porque Jesus no-la deu por mãe; Ele sabia, enfim, que precisaríamos da companhia dela para o nosso caminhar.

Foi efetuado um trabalho académico sobre este tema. O objetivo deste estudo foi levar Maria a ser melhor compreendida na vida espiritual de cada sacerdote ministerial. A nosso ver, uma vida espiritual, uma vida de interioridade, uma vida de relação profunda com Deus, uma vida de entrega condicional pelas causas do Reino dos céus, só poderá ser vivida na sua intensidade se tiver a companhia de Maria, Mãe de Jesus. Por isso, é que a sua presença e importância no meio da vida do povo cristão nunca foi desvalorizada, mas sempre valorizada. O nosso objetivo não é dar um parecer sociológico das intervenções de Maria no povo, basta só olhar para os santuários internacionais dedicados a ela, as Igrejas onde encontramos sempre uma imagem sua, a piedade popular onde Maria é figura e modelo de cada crente, não falando dos milagres que são efetuados no mundo inteiro pela sua interceção. Não saímos daqui ao querer argumentar de como ela é importante para a nossa vida espiritual, a nossa existência, todo o nosso ser.

Com este trabalho conseguimos olhar para uma espiritualidade mariana sacerdotal e reconstruir um itinerário pertinente e pouco explorado para a vida do presbítero. Acreditamos que este tempo é um tempo mariano muito importante, em que cada um de nós, que participamos no sacerdócio comum dos fiéis, e os que participam no sacerdócio comum ministerial, precisamos de caminhar na nossa vida espiritual e humana na companhia e ajuda da Virgem Maria.

A presença de Maria nas nossas vidas é real: ela intercede por nós em comunhão com todos os santos. Maria sobressai pela sua maternidade; e por ter sido escolhida para todas as gerações para ser mãe de todos, ela tem um papel fundamental na vida de cada um. Ela quer que todos se salvem e cheguem a compreender os caminhos propostos pelo seu Filho. Continua, por isso, também nos tempos de hoje, a interceder pelos seus filhos e pretende colocar um maior amor pelo seu Filho no coração de cada um de nós.

Quem vai a Maria vai a Jesus e isso nunca pode ser esquecido. Consideramos que daqui se abrem novas perspetivas de estudo, pelo menos no que se refere ao campo da pastoral do sacerdote. Maria, como mãe e educadora da vida espiritual do presbítero, ajuda-o na sua evangelização a ter uma maior dimensão de ternura e afeto. Ela caminha no meio de nós e ajuda o sacerdote a evangelizar numa maior índole mariana. O cuidado na pastoral é para nós o elemento mais necessário dos tempos de hoje. Maria educa-nos nesse sentido e motiva-nos a caminhar numa linha sinodal em que a Igreja se abre a todos, se aproxima de todos e caminha com todos. O mesmo que uma mãe, que reúne os seus filhos à sua volta, acolhendo-os com amor e caminhando com eles ajudando-os a tornar- se maduros e fortes nas virtudes teologais. Ela ajuda, particularmente, cada sacerdote a dizer o seu sim diário, a viver em alegria o anúncio do Evangelho, consola os que mais sofrem reanimando-os na fé, reúne-se com o sacerdote para juntos invocarem o Espírito Santo, desperta o ardor missionário dos presbíteros para que o Evangelho seja melhor compreendido e vivido por muitos, educa e reanima o presbítero a buscar novas formas de Evangelização.

Sim, com Maria o serviço torna-se um testemunho mais de comunhão, generoso e cuidadoso numa maior atenção aos mais


[1] Francisco Maria López Melús, María de Nazaret la verdadera discípula (Salamanca: Ediciones Sígueme, 1999) p. 23.

[2] Cfr Karl Rahner, María, Madre del Señor (Barcelona: Editorial Herder, 1967) p. 50.

[3]  Greshake, Gisbert, Ser sacerdote hoy. (Salamanca: Ediciones Sígueme, 2006) p. 448.

[4] Bento XVI, «Audiência Geral», quarta-feira, 12 de agosto de 2009. https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2009/documents/hf_benxvi_aud_20090812.html

[5] Exortação Apostólica Signum Magnum, nº 13.

[6] Carta Encíclica Redemptor Hominis, nº 22.

[7] Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, nº 285.

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