Santa Teresa e S. João da Cruz foram excelentes mestres em conhecimento interior. Santa Teresa, muitas vezes, alertou as suas irmãs para a necessidade de se conhecerem melhor e como esse autoconhecimento as poderia levar a uma melhor relação entre elas e a uma comunhão mais íntima com Deus. Afinal quem não se conhece a si, como conhece a Deus? – Uma pergunta simples que colocava, que nos merece muita atenção.
No livro “Caminho de perfeição” encontramos um capítulo belíssimo dedicado ao autoconhecimento e à proposta de expandir e promover as virtudes em nós. Santa Teresa vem aprofundar as virtudes que considera essenciais, em particular a humildade, desprendimento, amor e determinada determinação. Teresa tratou muito da relação, da relação entre as irmãs, umas com as outras e da relação com Deus. O aperfeiçoamento destas virtudes elevam a alma a uma maior capacidade de se relacionar, logo a tirar muito maior proveito para a sua vida. Por outro lado, no livro das moradas, esta Santa de Ávila também diz: “nunca chegaremos a conhecer-nos se não procurarmos conhecer a Deus. Contemplando a sua grandeza, acudiremos à nossa pequenez, vendo a sua pureza, veremos a nossa sujidade… uma coisa branca parece mais branca ao lado de uma negra, e esta, por sua vez, parece mais negra ao lado da branca”. Portanto o inverso também e verdade – o conhecimento de Deus ajuda-nos a conhecermo-nos melhor.
S. João da Cruz, por sua vez, também nos ajuda muito no crescimento humano. Os seus escritos sobre o tema da Noite Escura apresentam-nos um conjunto de imperfeições dos principiantes. Estes escritos juntamente com a obra “Subida ao Monte Carmelo” são um comentário ao poema “Noite”, que foi escrito no hospital de Toledo, depois da fuga da prisão. Ao meditarmos nessas imperfeições podemos perceber melhor como melhorar a nossa relação com todos os que nos rodeiam e a nossa relação com Deus. Marc Foley, padre Carmelita com formação em psicologia, no seu recente livro “A noite escura – Experiência psicológica e realidade espiritual”, Edições Carmelo, apresenta uma excelente chave de leitura destas imperfeições (orgulho, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça espiritual) alertando o leitor para factos muito atuais e onde podemos identificar estas imperfeições com o sentido de as eliminarmos da nossa vida. Também dedica capítulos a temas como: os benefícios do autoconhecimento; a comunicação da sabedoria e do amor; o aprofundamento da transformação, a secreta escada, e muitos outros temas fundamentais para o nosso crescimento espiritual. Uma leitura que recomendo vivamente.
A possibilidade de, em comunidade, ir conhecendo melhor estes dois grandes mestres, trouxe-me uma agradável surpresa quando, há cerca de 2 meses me pediram para falar da transição dos ODS para os ODI. ODI? Após uma pesquisa descobri que em setembro de 2022 as Nações Unidas publicaram os Objetivos de Desenvolvimento Interior (ODI) que propõem um conjunto de competências que os indivíduos precisam de desenvolver para contribuir com a prática dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Propõem-se desenvolver estas competências para a sociedade civil abrangendo empresas, academia e outras organizações. Foi criado um inquérito feito a mais de 6000 pessoas, tendo-se obtido 5 dimensões: SER – Relacionamento consigo; (2) SENTIR – Capacidades cognitivas; (3) RELACIONAR-SE – Importar-se com o outro e com o mundo (4) COLABORAR – Habilidades sociais, (5) AGIR – Possibilitar mudanças. E o mais bonito é que estas dimensões foram trabalhadas em 23 competências criando a seguinte matriz:
Ao lê-la e ao aprofundar esta temática fiquei com a sensação que poderia ter sido imaginada por estes dois místicos de Ávila do Séc. XVI, Santa Teresa e por S. João da Cruz! Com toda a sua dinâmica de autoconhecimento e de relação poderia ter sido uma proposta destes dois mestres!
Com o novo ano à porta proponho-vos, por um lado, aprofundar as virtudes Teresianas, por outro, procurar acabar com as imperfeições enunciadas por S. João da Cruz e por fim, porque não, aprofundar os ODI levando-os para os diversos contextos em que nos movemos: quer familiares, quer profissionais. Precisamos de sonhar e agir para teremos um mundo mais justo, aquele mundo proposto há 2000 anos por Jesus… Sigamos para 2025 com coragem, com fidelidade, com determinação…
