A maior parte da sua longa vida – quase 98 anos – viveu-a no claustro do Carmelo de S. Teresa, em Coimbra, sempre com a consciência de que as quatro paredes que rodeiam o claustro não fecham à vida quem entre elas vive, nem aos acontecimentos ou à dedicação ao próximo; muito menos limitam os horizontes, a grandeza de coração e os sonhos, mas servem para nos centrar no essencial que é Cristo e nos apontar o caminho do céu, o único espaço infinitamente aberto no claustro.
“E eu, vou para o Céu?”
Com apenas 10 anos, a Irmã Lúcia teve um encontro muito especial com uma bela Senhora que lhe disse: “Eu sou do Céu!” (13 de maio de 1917). Maria, a Mãe de Deus, a Virgem Santíssima, a quem ela tinha aprendido a amar, rezar e venerar, desde o seio materno, dignou-se vir do Céu à terra para falar com ela e o mínimo que ela podia desejar era ir com a Senhora para o Céu: “E eu, vou para o Céu?”.
Na catequese que a Senhora mais brilhante que o sol fez aos Três Pastorinhos, a primeira lição aprendida foi a de desejar o Céu e a Irmã Lúcia, assim como os seus pequenos primos, S. Jacinta e S. Francisco Marto, aprenderam depressa esse caminho árduo, mas belo, que os conduziria ao Céu.
A pergunta: “E eu, vou para o Céu?”, brotou espontaneamente… primeiro no coração, depois nos lábios, desta menina pura e inocente, para quem tudo era possível e que confiou cegamente nas palavras da Santíssima Virgem Maria. Com o seu raciocínio de criança intuiu que, se uma Senhora tão linda e pura vinha do Céu, era porque o Céu é algo maravilhoso! Mas não foi só a beleza da celeste Senhora que cativou os corações das três crianças, foi, sobretudo, a Luz que é Deus na qual a Virgem estava envolvida e na qual os envolveu, assim como o amor e a serenidade que a Senhora lhes transmitiu. Como diria depois o pequeno Francisco: “Do que gostei mais foi de ver a Nosso Senhor, naquela luz que Nossa Senhora nos meteu no peito” (Memórias da Irmã Lúcia I, pág. 141).
Assim começou, para estas três pequenas crianças, um caminho, com passos de gigante, rumo à santidade, rumo ao Céu!
“Sim, vais!”
Quem não gostaria de ouvir dos lábios da Mãe de Deus semelhante promessa!? A Irmã Lúcia teve a dita de ouvir! Sentiu o seu coração estremecer de alegria e gratidão, mas percebeu, desde logo que, mais do que um privilégio e graça, esta resposta era uma responsabilidade e um apelo à santidade.
Durante o “mais algum tempo” que lhe foi dado viver nesta terra, ela não descuidou o caminho do Céu que iniciara, não se fiou de que a meta estava alcançada e o prémio ganho, mas percorreu o seu caminho com “determinada determinação” (S. Teresa de Jesus, Caminho de Perfeição cap. 21,2), esforço constante, caindo e levantando-se, vencendo obstáculos e trabalhando diariamente na pática das virtudes cristãs até ao fim da sua vida.
O caminho do Céu, para a Irmã Lúcia, foi por vezes muito árduo. Muito cedo perdeu a companhia dos seus primos, seus únicos companheiros e confidentes; depois viu partir o seu querido pai; e, por fim, teve que deixar Fátima, o único lugar que ela conhecia, e viajar, sozinha, para o completo desconhecido, dizendo adeus a toda a sua família que pensava nunca mais voltar a ver. Ao longo da sua vida esforçou-se por seguir a vontade de Deus e por ser fiel a Nossa Senhora, não se deixando seduzir pelas coisas ou pessoas, mas tendo sempre a certeza interior de que, como ela escreveu: “O mundo é apenas um caminho para Deus” (Um Caminho sob o olhar de Maria, biografia da Irmã Lúcia).
Nossa Senhora deu à Irmã Lúcia a missão de a fazer conhecer e amar, divulgando a devoção ao seu Imaculado Coração em todo o mundo: “Jesus quer servir-se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação; e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por mim a adornar o Seu trono” (13 de junho de 1917). No seu caminho para o Céu, a Irmã Lúcia, carregou o peso e a responsabilidade de transmitir ao mundo uma mensagem celeste, foi compreendida por alguns, insultada por outros, mas permaneceu firme e inabalável na sua fé, nunca se desviando do caminho que a Senhora do Rosário lhe tinha indicado, nem do “sim” que lhe tinha dado no primeiro encontro: “Querei oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores? – Sim, queremos”, foi a sua resposta constante até ao seu último sim, o Sim eterno.
“Alegrai-vos, porque os vossos nomes estão escritos no Céu!” (Lc. 10,20)
As palavras de Nossa Senhora não foram só para os Três Pastorinhos. Ela sabia que, através deles, todos nós conheceríamos a sua Mensagem celeste e, por isso, a promessa do Céu é também para nós, batizados em Cristo, redimidos pelo Seu sangue, herdeiros, com Cristo e em Cristo, da glória do Pai.
Todos nós vamos a caminho do Céu e já possuímos o Céu dentro de nós, porque, como dizia S. Isabel da Trindade: “O Céu é Deus e Deus está na minha alma!” (Obras completas, Carta 122).
Cada um é chamado a percorrer o seu caminho para o Céu, um caminho que por vezes não é fácil, mas no qual podemos sempre contar com a ajuda de Deus, de Nossa Senhora e dos Santos que intercedem por nós.