Mai 10, 2022 | Cultura, O Deus que inspira

Professora de música – Carmelita Secular

A Beleza que inspira e eleva

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A presença e a ação indelével de Deus deixam marcas por onde passa, transmite paz, elevam o espírito e dão sentido e encanto à vida!

Os espaços sagrados são um convite à contemplação da beleza de Deus. Através da arte, seja pelo espaço arquitetónico ou sonoro, seja através da escultura ou da pintura, o Homem sempre sentiu a necessidade de manifestar a presença de Deus, de se ligar e comunicar com Ele de uma forma que vai para além das palavras. Como muitos artistas sentem e descrevem, esta expressão criativa provém da inspiração do próprio Deus no Homem e se manifesta através de uma força interior que implica a concretização de obras perante as quais é, muitas das vezes, impossível ficar indiferente. Veja-se o exemplo da escultura Pietá de Michelangelo, da composição musical da Missa da Criação de Joseph Haydn ou da Última Ceia de Leonardo da Vinci. De diferentes maneiras, manifestam a beleza de Deus! Penso que para o cristão, esta é uma beleza que se estende muito para além daquilo que é sensitivo e, por isso, se prolonga no espírito.   

Muito se poderia falar sobre arte sacra, da sua função e correntes de expressão, mas suponho que o mais importante a reter é que ela existe como um meio e não um fim em si mesmo, que serve para estar ao serviço de Deus e da Igreja, para que, assim, possamos ter sinais de elevação da nossa atenção para Ele. Creio que a arte sacra encerra em si várias possibilidades da leitura da beleza de Deus! Talvez seja um assunto de difícil expressão, mas acredito também que seja nessa imensa beleza que possamos ser inspirados por Ele, pois tal como está patente em Génesis 2:7 fomos criados por Deus através de um sopro.  Esta imagem remete-nos para um Deus-Criador, que, tal como um artista criou a sua obra-prima: o Homem, ressaltando a ideia de uma arte-viva que emana de Deus, mas que não se encontra acabada! É desta forma que passamos a ser os nossos próprios artesãos, mas sempre em união com Deus, não esquecendo os Seus moldes para assim dar continuidade a uma obra com proporções harmoniosas e de acordo com os intuitos do Criador principal!

Partindo dos pressupostos enunciados é possível verificar que Deus ocupa um lugar central quer no momento da criação, quer nos momentos de inspiração para os artistas. E quando me refiro a artistas pretendo transmitir uma abordagem com duas possibilidades: (1) os artistas no seu sentido verdadeiramente técnico, com uma vocação que resulta em criações poéticas, sonoras, pictóricas, escultóricas ou arquitetónicas e que pretendem remeter para o nosso Criador e (2) os “artistas” criados por Deus enquanto elementos inacabados, mas com possibilidade de participação e construção de um projeto de vida que se traduz ao nível da existência e ação humana. Ambas as possibilidades aludem para formas de arte e para a beleza da criação: a primeira com um sentido acentuadamente estético e com possibilidade de expansão ao nível espiritual e a segunda com um sentido prático e de responsabilidade na vida concreta de um Cristão. A partir daqui torna-se evidente a possibilidade da beleza de Deus em nós, da centelha divina sempre presente, bem como da transcendência interior e envolvente em tudo e em todos. Tudo isto se manifesta na possibilidade de conversão que existe dentro de nós, na confiança e aceitação do caminho e projeto de vida proposto por Ele, na prática dos Seus mandamentos.

O cristão, deixando-se enamorar pela beleza e toque de Deus, que o inspira e modela interiormente, terá uma necessidade constante de retoque e manutenção. A presença e a ação indelével de Deus deixam marcas por onde passa, transmitem paz, elevam o espírito e dão sentido e encanto à vida, com manifestações exteriores de verdadeira caridade e entrega! Como chegar e mantermo-nos ligados à beleza de Deus é e será uma jornada muito pessoal, que, sem dúvida, requer oração, determinação, humildade, coragem, discernimento, conhecimento de si próprio e inspiração em Jesus Cristo. Assumir esse caminho é aceitar a responsabilidade de cooperar num projeto de felicidade com tudo o que isso possa implicar – avanços e recuos, quedas e ascensões – mas sem nunca desistir, porque Deus nunca se cansa de nós! Também aqui está a beleza de Deus: na perseverança, na resiliência, na coragem!

Marlene Tavares

Professora de música – Carmelita Secular

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