Lembrar a nossa querida Irmã Lúcia, como ela vive e habita em nosso coração, é saudade, nostalgia e ternura, mas é também e, sobretudo, gratidão, aprendizagem, exemplo e coerência!
Tem-se dito, escrito e mesmo especulado sobre esta grande personalidade, agigantada na sua simplicidade e discrição, projectada mundialmente pelos desígnios de Deus, que fez da sua pequenez vector da difusão no mundo inteiro de mais um apelo à Humanidade para a conversão e salvação.
É assim, efectivamente o nosso Deus! Amor e Misericórdia!
Não se cansa nunca de amar, perdoar e acolher todos os seus filhos, preferencialmente os mais frágeis, marginalizados ou humildes.
Lúcia era assim que se via! Um humilde e insignificante instrumento nas Suas Divinas mãos.
E, de facto, assim agia. Obediência total, coerência e fidelidade eram as suas grandes armas para levar a cabo a imensa obra que, através dela, Deus lhe pedia. E, no seu Sim fiel audaz e definitivo, encontrou o caminho que a realizou em plenitude e a conduziu ao âmago do Coração de Deus, através de Sua Mãe Santíssima. De facto, foi uma grande Graça que Deus me concedeu, fazendo convergir o meu caminho com o dela! Que enorme aprendizagem para mim! Que grande oportunidade para corrigir atitudes e modificar comportamentos! Que bênção poder conviver com ela na intimidade mais profunda e absorver os valores que dela emanavam, como luz estruturante da sua própria natureza! E não pensemos que isto a envaidecia ou a assoberbava. Pelo contrário! No convento, era a mais normal e discreta entre todas! Com efeito, a grandeza da humildade manifesta-se sobretudo na assunção da verdade, na perseverança da fidelidade a Deus, à palavra e à Igreja, quaisquer que sejam as circunstâncias, e ainda na audácia das acções e atitudes, sempre enraizadas na Fé que nos fortalece, na Esperança que nos traz a alegria apesar das vicissitudes e na Confiança no Amor Maior que nos nutre e dá coragem.
Esta experiência veio mostrar-me e ensinar-me que a santidade é uma meta perfeitamente ao alcance de todos! É tangível e possível! Assim nós o queiramos!
Reconhecer a nossa pequenez, a nossa debilidade e a nossa falibilidade é a condição primeira para encetar o caminho! Renunciar ao orgulho e autossuficiência, sabendo-se vulnerável, é o primeiro passo no rumo da perfeição que procuramos, para que fomos criados, mas que nunca está adquirida e exige de nós um contínuo empenho e esforço.
Lúcia transparecia estes atributos e procurou sempre, na sua humanidade, ser espelho deste projecto de Deus, caminhando na senda que ela aprendera “Na Escola de Maria”!
Frontal e directa, não se furtava a manifestar as suas opiniões sem nunca se deixar intimidar ou acobardar. Educada e assertiva, com um humor notável, dizia sempre o que lhe ia na alma, privilegiando, todavia, o respeito pelas seus interlocutores que cuidava sempre de nunca magoar ou ofender.
Como sinto saudade da sua presença amiga!
E como foi mestra na minha vida!
Se eu fui designada para tratar da sua saúde física, ela foi, sem qualquer dúvida, minha médica e cuidadora espiritual. Com ela, na espiritualidade carmelita e de seus Santos, mergulhei e conheci a verdadeira alegria e realização pessoal, onde o cuidado pelos doentes, fruto da minha profissão, foi inserido no Plano Maior de Amor ao próximo que cuida, serve e se dá em plenitude.
Consciente e intelectualmente lúcida até aos últimos momentos da sua vida terrena, conservou vivas e actuantes as memórias e as promessas que fizera à “Senhora Mais Brilhante que o Sol”!
Mesmo no sofrimento, a alegria e a preocupação com todos era atitude constante que nunca abandonou, sendo muitas vezes ela própria a encorajar os que a rodeavam! Nas vicissitudes e contrariedades encontrava a força para prosseguir na fidelidade à Vontade de Deus, mergulhando na oração que apazigua, encoraja e fortalece a fragilidade da nossa condição humana.
No sofrimento espelhava a serena alegria que habitava em sua alma, abraçando-nos no terno laço que a todos abrangia e se estendia, em particular ao Santo Padre que tanto amava!
Partiu naquele dia 13 de Fevereiro de 2005, de tão doces e ternas memórias, a que eu tive o privilégio de assistir e pessoalmente cuidar de modo tão próximo e íntimo.
Até sempre, querida Irmã Lúcia! Até breve minha querida amiga… pois, na Eternidade, e junto de Deus, não há tempo nem espaço!
Quis Deus que, também eu, “ficasse cá mais algum tempo”! E só Ele sabe quanto! Até lá espero o seu abraço amigo e fraterno numa oração junto da Mãe.