Enraizados na esperança, mergulhamos na confiança que nos conduz à certeza na fé, da ressurreição e da Vida! Esta é a verdade que nos deve animar durante o nosso percurso vivencial, a nossa existência terrena! Com efeito, como enfrentar ao longo da nossa vida a travessia de um trajeto, quase sempre, com tantos percalços e escolhos, que nos pode fazer vacilar e desviar da meta?
Se a Cruz é uma realidade na nossa existência, a esperança é a luz que nos orienta e impulsiona! A esperança é o farol que, mantendo acesa a chama da fé, nos encoraja a nunca desistir e nos anima a perseverar com alegria, no caminho certo e na rota da vitória.
O Advento é, sem dúvida, o tempo da esperança e da confiança. Neste interregno existencial, a nossa alma pressente a ansiada concretização da plenitude que, sem estar ainda visível e ao alcance do olhar humano, se revela como verdade inquestionável e felicidade completa, tangível à nossa pequenez!
Foi assim com Maria, a pequena e humilde Serva do Senhor que, confiando plenamente na Sua palavra, viveu a alegria da espera e trouxe até à humanidade a plenitude dos tempos, a promessa concretizada, a aliança na eternidade!
Apesar dos sofrimentos, das dificuldades e dos escolhos, Maria não vacilou! Sem entender muitas coisas que lhe eram ditas, guardava em seu coração, com confiança, tudo quanto lhe era transmitido. E assim, no silêncio fecundo, expectante mas autêntico, viveu sofreu e rejubilou com seu divino filho, a vitória prometida.
Na verdade, tão importante quanto a meta que nos propomos alcançar, é o caminho que nos dispomos a percorrer para atingir o objetivo.
Também a Irmã Lúcia conheceu esta experiência, ao caminhar na fé e na esperança de quem se entrega sem questionar nunca, ou pôr em causa alguma vez, as revelações e os pedidos que, um dia, lhe foram confiados.
Nas dificuldades e desafios, no sofrimento e na angústia, mas também na doce expectativa da vitória, enraizada na promessa de que «por fim o meu Imaculado Coração triunfará» (Memórias da Irmã Lúcia, terceira aparição), ela permaneceu fiel e perseverante, seguindo com intrepidez e coragem o exemplo da «Senhora mais brilhante que o sol», a quem amava sem reservas!
Ao fixarmos o nosso olhar em Jesus, viveremos aqui e já a preparação do encontro final que a todos aguarda! Ao aproximar-se, então, o momento de O contemplarmos face a face, nada temeremos nem nos angustiaremos, mas estaremos prontos para saborear a promessa que a todos foi feita – a Vida Eterna!
A treze de fevereiro de 2005 tive a graça de testemunhar, viver e contemplar um dos momentos mais comoventes da minha vida. A experiência da passagem da Irmã Lúcia para a Eternidade ficará para sempre gravada em minha memória como uma das mais doces lembranças e da certeza da perpetuação da vida, na plenitude do Amor e Misericórdia de Deus!
Acompanhei-a em permanência durante as horas finais da sua vida terrena, e tive o ensejo e oportunidade de partilhar com todas as irmãs da Comunidade do Carmelo e do Senhor Bispo Dom Albino Cleto, o momento da sua partida para a Vida Eterna. Que serenidade! Que transcendência! Que atmosfera! Diria que quase se adivinhava ali, naquele instante, o Céu presente! A serenidade e o espanto de quem contemplou, naquele momento, o Amor e a Luz, estavam estampados no rosto daquela que aguardava, há já algum tempo, o encontro tão desejado, e vivia, nos últimos dias da sua existência terrena, a saudade daquilo que tinha contemplado muitos anos atrás! «– Nossa Senhora disse-me que ficaria cá mais algum tempo… mas já está a ser tanto!» … Confiava-me ela, algumas vezes, nas nossas inúmeras conversas que tanto me enterneciam!
Ali, no seu semblante e naquela hora, vi espelhado o esplendor e a admiração de quem contempla a suprema Beleza e a infinita Bondade! Esta realidade refletiu-se nos seus olhos, que ela própria, emergindo do estado de coma em que mergulhara poucas horas antes, abriu subitamente para a todos nos agraciar com um gesto de ternura e gratidão.
No momento imediato, contemplado o Crucifixo que a Madre Prioresa lhe colocara diante, pareceu-nos extasiar-se perante a realidade que observava, tal foi a expressão de espanto, encanto e surpresa. No instante seguinte, ela própria cerrou os seus olhos para este mundo, sem que houvesse necessidade de alguém lhos fechar e parou de respirar. Verifiquei, então, logo de seguida, que o seu coraçãozinho também tinha parado de bater confirmando, nesse momento, o óbito. A atmosfera envolvente era de profunda comoção, iniciando-se, naquele instante, à sua volta, a entoação de vários cânticos de louvor e de gratidão a Deus pela graça que nos tinha sido concedida. Havia um misto de saudade e de júbilo! A nossa humanidade tomava consciência que a finitude da matéria não é mais que a porta de acesso à verdadeira Vida!
Com Lúcia partilhei um importante trajeto da minha vida, e dela aprendi a amar, incondicionalmente, a Igreja, a Virgem Maria e, acima de tudo, a Deus!
Tornando-se minha amiga e confidente, com a sua humildade, paciência e amor fraterno, ensinou-me a encontrá-Lo na trivialidade dos momentos da vida comum, na simplicidade dos gestos quotidianos, no silêncio fecundo da escuta, onde a Voz de Deus ecoa e sussurra no nosso íntimo, ora como doce brisa que refrigera e acalma os nossos medos, ora na turbulência que desinstala e impele os nossos passos. – Maria levantou-Se e partiu apressadamente… (Lucas 1:39).
Encontrámo-Lo no esplendor da natureza que nos deslumbra, na maravilha de uma flor, de um pôr do sol ou da vastidão de um oceano, mas também e, principalmente, no grito de socorro do irmão marginalizado, angustiado e sofredor que aguarda a nossa misericórdia e a ternura de um coração compassivo e sensível e que, ao nosso lado, é um outro Cristo à espera do Cireneu que o ajude. Temos, assim, a oportunidade de identificar o Criador e o Redentor que se revelam ao nosso olhar, através da Sua pegada, tornando-nos também Seus colaboradores ativos na Sua obra de infinito AMOR!…