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Jan 28, 2025 | A casa das libelinhas, Cultura

Bispo e poeta

Oração da calada esperança

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I

Senhor da chuva e do vento
Das manhãs e do entardecer
Senhor das horas, do tempo
Da vida a acontecer

A Ti rezo, louvo e canto
Agradecido pelo teu amor
Pintado na beleza e encanto
De uma abelha e uma flor
E nos olhares de espanto
De uma criança
Perante o brilho e a cor
Das papoilas floridas no campo
Banhadas pela luz e o calor
Do sol da Primavera

Senhor
Eu te rezo, louvo e exalto
E dou graças pela alegria
Do canto de uma cigarra
Do voo de uma cotovia
Pela noite que me embala
Com estrelas de magia
E os cantos da madrugada
Que anunciam o novo dia

Senhor
Eu te rezo, louvo e canto
Numa oração agradecida
O riso e também o pranto
Com que vivemos a vida
Tudo é dom do teu amor
Eu te agradeço, Senhor.

II

Meu Deus
Em quem eu creio
Por caminhos de mistério e silêncio
De Ti nada sei
Apenas que és Amor
Indizível
Imenso…

Não sei falar de Ti
Não sei falar contigo
Mas sei que me amas e isso me basta
E sei que a cruz é o caminho
Que explica o teu amor
Feito entrega pela humanidade
Pecadora
Feito doação até ao fim
Feito vitória sobre o pecado e a morte.

E sei também que contigo
Há sempre um sepulcro vazio
Que nos fala de ressurreição
E semeia de esperança a nossa vida

E silêncio!

III

Meu Deus
Tantas vezes calado nas tempestades e dúvidas da vida
Tantas vezes mais perguntas que respostas
Tantas vezes um poema rasgado nas cores do poente
Tantas vezes procurado em desertos sem oásis
e não encontrado

Ah, mas é impossível não acreditar em Ti
Senão quem me vai apontar os caminhos da liberdade
Quem me vai abrir o Mar Vermelho da esperança
Quem me vai apontar caminhos de aliança
Quem me vai dar vinho novo em Caná
Quem vai libertar-me dos meus catres e sepulcros
Quem vai dar sentido à morte do Amor na cruz?

Meu Deus
Não te peço que apagues os meus medos
Que rasgues o silêncio da tua Palavra
Apenas que nunca me canse de Te procurar
E de Te encontrar
No sol da manhã
Nos ritmos da chuva
Nos cantos do dia

E mesmo nas noites escuras
Que descubra a tua presença
Naquela estrela pequena que longe brilha

Que nunca me canse, Senhor
De Te procurar
Porque sei que Tu
Nunca Te cansas de me amar!

IV

Olho o teu rosto
E rezo
Nele contemplo histórias de vida
Sonhos
Que Deus te bendiga!

Olho as tuas mãos
E escrevo
Um poema
Uma oração
Agradecido
Por essas mãos com que desenhaste
Os poemas da tua vida!

Olho os teus pés
E sonho
Com estradas
Construídas com os teus passos
Semeadas de sonhos e cansaços
E pintadas de flores
Com espinhos
Mas cheias de cor!

Olho-te
E rezo
Agradeço a Deus porque existes
Contigo as noites nunca são tristes
Há sempre estrelas.

Dom Manuel António Santos

Bispo e poeta

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