«Parece que depois da pandemia as pessoas tornaram-se mais egoístas!» – ouço algumas vezes. Também esta é, devo confessar, sendo adverso a pessimismos morais, a minha impressão.
Não consigo diagnosticar com limpidez as causas. Teríamos de entrar, talvez, no campo da Psicosociologia, onde não sou especialista e nem sequer um curioso. Talvez tenha a ver com a vulnerabilidade de que seremos mais conscientes. Vulnerabilidade ou fragilidade que nos devia tornar mais humildades. Mas, em vez disso, parecemos mais egoístas. É estranho.
E, nós, cristãos? Padecemos da mesma maleita? Não deveríamos estar “vacinados” com a interpelação do Evangelho? Ou somos mais do mesmo?
Que cristãos somos nós, se vivemos como se Jesus não estivesse no meio de nós, vivo e interpelador?
Não devíamos contrabalançar?
Também julgo que o “mal” tem sempre mais visibilidade do que o “bem” (o ser bem, o querer bem e o fazer bem). Julgo que, afinal, até haverá muitas pessoas, cristãs e não-cristãs, agnósticas e até “adeptas do ateísmo” que ousam ser diferentes e remar contra a maré. Sempre o houve na História da Igreja e sempre o haverá, enquanto a História tiver páginas por escrever. Mas não são tão visíveis, repito. O mal é astuto e aliciante, entra-nos nos olhos e permanece na memória.
Mas estamos mais egoístas. Não serão necessários censos ou uma simples sondagem. Importará reconhecê-lo. E de mão dada com o egoísmo vai a indiferença em relação ao outro (o tal “próximo”) que pouco importará.
Neste contexto, penso, por exemplo, na JMJ em Lisboa e nos seus ecos pastorais e espirituais. Transformou corações para que possam transformar o mundo? Ou aquele um milhão e meio de jovens foi regressando progressivamente às suas rotinas mecânicas, redes sociais e competições, à medida que a emoção daquela semana se ia desvanecendo? Voltou tudo ao mesmo? A JMJ é, agora, apenas uma agradável recordação?
Como podemos ser sal da terra e luz do mundo?
Cedendo prioridade no trânsito.
Cedendo a minha prioridade no trânsito da nossa vida.
Ao outro que espera. Ao outro que passa.
Porque o outro é dom para mim.