Fev 25, 2025 | Casa comum, Permanecei no amor

Educadora Social

AMOR PÚBERE

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O amor, como uma das experiências mais transformadoras da existência humana, ganha especial relevância durante a fase da adolescência – período repleto de descobertas, dúvidas e construção de identidade. Nesta fase de tantas mudanças, será que a Igreja surge como um espaço de orientação espiritual e moral, ajudando os adolescentes a interpretar o amor numa perspetiva que ultrapassa o mero sentimentalismo e impulsos para um compromisso mais profundo? Será que inspirados pelos ensinamentos cristãos, os adolescentes são convidados a descobrir o verdadeiro significado do amor, que une responsabilidade, altruísmo e fé, enquanto enfrentam os desafios próprios desta etapa da vida?

Considero que o amor, na sua essência mais pura, é uma experiência que toca o divino e revela a profundidade da alma humana. Durante a adolescência, uma fase repleta de transformações, inquietações e procura pela própria identidade, o amor assume um papel ainda mais marcante. É um momento em que os adolescentes começam a vislumbrar o amor não apenas como um ímpeto emocional, mas como um convite para algo maior, algo que poderá estar relacionado com o humano ao transcendente.

«O amor não é apenas um sentimento; é um ato de vontade que consiste em preferir, de maneira constante, o bem maior do outro». Esta reflexão de São João Paulo II ilumina a compreensão do amor como algo que transcende o imediatismo das emoções, sendo uma escolha consciente e altruísta. Neste contexto, a Igreja pode ser um farol de orientação espiritual, iluminando o caminho com valores que integram o amor como entrega, respeito e cuidado pelo outro.

Durante a minha adolescência, encontrei um espaço de profunda transformação e crescimento no grupo juvenil Carmo Jovem. Este grupo não era apenas um ponto de encontro para adolescentes inquietos, mas um verdadeiro lar espiritual, onde eu, e outros que comigo caminhavam, construímos amizades sinceras e vivemos experiências que moldaram o nosso ser. Foi no Carmo Jovem que começamos a entender o amor como algo que vai além das emoções passageiras, reconhecendo-o como uma força que une, transforma e interliga o humano ao divino. Cada encontro, cada caminhada, cada celebração, cada momento de partilha era uma oportunidade de aprofundar os valores cristãos na espiritualidade carmelita. Hoje, como educadora social, percebo que este encontro entre o adolescente e a espiritualidade é um terreno fértil para o crescimento. É neste espaço que muitos aprendem que o amor vai além do que é passageiro, alcançando a dimensão da empatia, do serviço e da construção de uma vida plena e significativa. O escritor cristão CS Lewis reforça esta ideia em «Os Quatro Amores», ao destacar que o amor verdadeiro não se limita ao prazer ou ao desejo, mas exige compromisso e responsabilidade: «O amor é vulnerável. Amar é estar disposto a sofrer pelo bem do outro».

Guiar adolescentes neste processo é uma experiência complicada por si só, pois implica ajudá-los a traduzir as turbulências emocionais num diálogo interior profundo, onde o amor se revela como força transformadora e bússola moral. Paulo Freire, educador e pedagogo, une fé e pedagogia, salientando que: «se, na verdade, a educação é um ato de amor, é um ato de coragem. Não pode temer o debate. Não pode fugir à discussão criadora». Neste sentido, o amor deixa de ser apenas um sentimento e torna-se uma prática, uma escolha diária de viver em harmonia consigo, com o próximo e com o sagrado.

«O amor é o sinal pelo qual se confirmam os verdadeiros discípulos de Cristo», recorda-nos Santo Agostinho, sintetizando o caráter espiritual desta invocação. Assim, ao acompanhar os adolescentes, ajudamos a moldar não apenas as suas ações, mas os seus corações, permitindo que se interliguem ao verdadeiro significado do amor: a união do humano com o divino.

O amor, na sua essência mais pura, é uma experiência que se aproxima ao divino e revela a profundidade da alma humana. Durante a adolescência, este sentimento assume um papel ainda mais marcante. É um momento em que o adolescente começa a vislumbrar o amor não apenas como o tal ímpeto emocional, mas como um convite para algo maior.

Na perspetiva cristã, o amor é mais do que um sentimento; é uma escolha, um compromisso. A primeira epístola do apóstolo Paulo aos Coríntios ensina: «O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor» (1 Coríntios 13:4-5). Este trecho convida a refletirmos sobre como o amor deve ser vivido de forma altruísta e madura, mesmo em relações de amizade, família ou namoro.

No contexto da Igreja somos frequentemente encorajados a exercitar o amor ao próximo – um dos mandamentos fundamentais de Jesus: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39). Esta mensagem ganha ainda mais relevância na adolescência, quando o desejo de pertença e aceitação pode levar a conflitos internos e interpessoais. Ao seguir os ensinamentos bíblicos, os adolescentes são chamados a cultivar a empatia, a compreensão e o perdão, pilares de um amor que constrói relações saudáveis.

Para além das Escrituras, o Papa Francisco, nas suas mensagens aos jovens, costuma enfatizar a importância do amor como uma força transformadora. No texto da Christus vivit, afirma: «O amor é mais do que um sentimento; é uma decisão. É escolher dar-se aos outros, compartilhar a vida com eles, e respeitar a sua liberdade». Esta perspetiva complementa a vivência da fé, mostra-nos que o amor exige responsabilidade e compromisso, mesmo nesta idade de tantas transformações.

A Igreja também oferece espaços de convivência e formação, como grupos de adolescentes, de jovens e catequeses, onde todos podem explorar questões sobre o amor e a sexualidade à luz da doutrina cristã. Estas experiências ajudam a formar uma visão do amor que vai além do individualismo típico da sociedade moderna, promovendo uma vivência mais integrada e comunitária.

Por fim, é essencial lembrar que o amor, como virtude teologal, é uma graça divina que orienta o ser humano para Deus e para o outro. Não nos fecha em nós mesmos!  Durante a adolescência, pois, compreender e viver este amor é um desafio, mas também uma oportunidade de crescimento espiritual e humano. Que árdua tarefa temos nós, educadores, em mãos: ajudar cada adolescente/jovem a encontrar na fé e, nos exemplos de amor verdadeiro, um caminho para construir relações autênticas e plenas.

Vamos juntos?

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

Agostinho, S. (2000). Confissões. São Paulo: Paulus.

Bíblia Sagrada. (nd). 1 Coríntios 13:4-5; Mateus 22:39.

Francisco. (2019). Cristo Vivit . Cidade do Vaticano: Libreria Editrice Vaticana. Disponível em https://www.vatican.va .​​

Freire, P. (2019). Pedagogia do Oprimido (66ª ed.). Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Igreja Católica. (nd). Reflexões catequéticas e formação juvenil sobre amor e sexualidade.

João Paulo II. (2005). Amor e Responsabilidade. São Paulo: Quadrante.

Lewis, CS (2005). Os Quatro Amores (4ª ed.). São Paulo: Martins Fontes.

Verónica Parente

Educadora Social

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