A vida cristã não se limita à igreja ou à oração privada. Ser cristão é um compromisso que se reflete em todas as áreas da nossa existência, incluindo o ambiente de trabalho. Como podemos viver a nossa fé num mundo profissional que, muitas vezes, parece distanciar-se dos princípios cristãos? Este desafio pode ser também uma grande oportunidade de testemunho e crescimento espiritual.
Os desafios de ser cristão no trabalho
No dia a dia profissional, encontramos vários desafios que podem testar a nossa fé e integridade. Um dos mais evidentes é a pressão para nos conformarmos com padrões que nem sempre estão alinhados com os valores cristãos. Pode ser a tentação de ceder à desonestidade para obter vantagens, participar em fofocas que destroem reputações ou, simplesmente, agir com indiferença perante as injustiças.
Outro desafio é o da intolerância ou falta de compreensão em relação à fé. Nem sempre é fácil expressar crenças religiosas sem receio de ser ridicularizado ou marginalizado. Num mundo cada vez mais secularizado, falar de Deus pode ser visto como inadequado ou até mesmo ofensivo para alguns.
Também a exigência de produtividade e a pressa do quotidiano podem fazer com que nos afastemos da oração e da meditação espiritual. Muitas vezes, somos consumidos pelo trabalho ao ponto de negligenciarmos o nosso relacionamento com Deus, com a família e com os outros em geral. São João da Cruz, porém, lembra e aconselha: «no entardecer da vida, seremos julgados pelo amor» – um lembrete a não deixarmos que o trabalho nos afaste da nossa missão principal.
O desafio da secularização e a exclusão da fé do espaço público
Nos últimos anos, tem-se observado uma crescente pressão social para que a religião seja relegada ao âmbito exclusivamente privado. Movimentos como o chamado woke promovem a ideia de que todas as expressões religiosas no espaço público são uma ameaça à diversidade e inclusão. No entanto, esta abordagem contradiz o direito fundamental à liberdade religiosa e, paradoxalmente, impõe uma nova forma de censura ideológica.
Bento XVI alertava para os perigos de um relativismo agressivo, afirmando: «uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que deixa apenas como medida última o próprio eu e os seus desejos». A imposição de um ambiente onde qualquer símbolo religioso é visto como ofensivo não apenas limita a liberdade dos crentes, mas também empobrece a cultura e apaga as raízes espirituais que moldaram a sociedade ocidental.
Esta tentativa de banir Deus do espaço público atinge também o ambiente de trabalho, onde as expressões de fé, como ter uma Bíblia na secretária, um crucifixo ou ícone na parede, ou mencionar a religião numa conversa, são por vezes desencorajadas. Contudo, o cristão é chamado a ser testemunha em todas as áreas da vida, sem medo e sem esconder a sua identidade. As palavras de Jesus em Mateus 5:14-16 são particularmente desafiantes e imperativas: «vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu».
As oportunidades de testemunhar a fé
Apesar dos desafios, o ambiente de trabalho é também um campo fértil para viver e transmitir a mensagem de Cristo. Uma das formas mais eficazes de evangelizar no trabalho é através do testemunho silencioso: agir com integridade, honestidade e amor ao próximo.
A maneira como tratamos os nossos colegas pode ser um reflexo direto da nossa fé e caridade. Praticar a empatia, ser paciente e saber perdoar podem tornar-se sinais claros do amor de Deus. Pequenos gestos de bondade e generosidade podem impactar profundamente aqueles à nossa volta.
Outra grande oportunidade é a busca da excelência. O cristão deve esforçar-se por fazer o seu trabalho com dedicação e competência, não para agradar aos homens, mas como forma de glorificar a Deus: «tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para os homens» (Colossenses 3:23).
Além disso, enfrentar adversidades no trabalho com uma atitude cristã pode ser uma forma poderosa de testemunho: «o que agrada a Deus é a perseverança na fé em meio às dificuldades» (Santa Teresa de Jesus). Responder ao stress e às dificuldades com serenidade e esperança, pode despertar curiosidade e levar outros a questionarem sobre aquilo (Quem!) que nos sustenta. Como afirmou Bento XVI: «a fé não nos tira nada, mas dá-nos tudo», lembrando-nos de que confiar em Deus no trabalho pode ser uma fonte de força e de propósito.
Estratégias para manter a fé ativa no trabalho
Para viver a fé no trabalho é bom termos algumas estratégias pessoais que nos ajudem a manter-nos no caminho:
- Oração constante – mesmo nos dias mais atarefados, encontrar momentos para falar com Deus ajuda a manter a direção correta;
- Leitura da Palavra – ter um versículo, uma palavra da Bíblia no pensamento pode ajudar-nos a enfrentar desafios com sabedoria e fé;
- Integrar-se na sua comunidade paroquial ou em algum movimento específico – o apoio de outros irmãos pode fortalecer-nos e dar-nos força para superarmos as dificuldades. A partilha sincera entre irmãos, unidos na fé, enriquece a nossa forma de ver o mundo e as dificuldades;
- Ser luz onde estivermos – agir com amor e integridade para que os outros vejam Cristo em nós;
- Não ter medo ou vergonha de se assumir cristão, nem ceder a certas formas de censura. – defender, com respeito e serenidade, o direito de expressar a fé no trabalho, sem medo de represálias ou julgamentos;
- Fomentar o diálogo – estar disponível para responder a questões sobre a fé, promovendo uma convivência saudável e respeitosa. Para isso é necessário também uma formação contínua e procurar querer saber sempre mais sobre as razões da nossa fé.
Ser cristão no trabalho não é fácil, mas é uma grande oportunidade de mostrar ao mundo que é possível viver de forma diferente, baseada nos valores do Reino de Deus. Que possamos encarar cada dia como uma nova chance de glorificar ao Senhor com o nosso trabalho e a nossa conduta. E que no fim de cada dia de trabalho, por mais difícil que possa ter sido, tenhamos no coração e no pensamento este belo ensinamento de Santa Teresa de Jesus: «nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda. Quem a Deus tem, nada lhe falta, só Deus basta».