Jul 30, 2024 | Casa comum, Permanecei no amor

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Crescer em Comunhão: A relevância dos grupos na nossa evolução pessoal

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O ser humano quando nasce traz consigo uma carga genética que o influenciará em toda a sua vida, mas não só. Ao longo da vida, os grupos servem como redes de apoio emocional. Em momentos de dificuldade, saber que se pode contar com o apoio e a compreensão de outras pessoas pode fazer uma diferença significativa na forma como lidamos com o stress e a adversidade. A solidariedade encontrada nos grupos pode fortalecer o indivíduo proporcionando-lhe a confiança necessária para superar obstáculos e seguir em frente.

A importância dos grupos é evidente em diversos aspetos da vida. No contexto familiar, por exemplo, o tempo passado com a família fortalece os laços afetivos e proporciona um espaço seguro para a expressão de emoções, a partilha de experiências e aprendizagem de valores fundamentais. A família é o primeiro grupo e o grupo fundamental ao qual pertencemos e, como tal, é a base para a construção da nossa identidade e autoestima pessoais.

A necessidade de pertença foi primeiramente mencionada por Baumeister e Leary (1995), sendo definida como uma motivação que os seres humanos têm para procurar e manter laços sociais profundos, positivos e recompensadores. Por exemplo, os momentos de convivência familiar, tais como refeições em conjunto, brincadeiras e conversas, são oportunidades valiosas para ensinar e aprender habilidades sociais, como a comunicação eficaz, a empatia e a resolução de conflitos.

E como se vivem estes momentos hodiernamente? Penso e saliento que muitas das vezes, a fugir… Mas, para além da família, outros grupos sociais, como o dos amigos, o dos colegas de escola ou do trabalho, ou a comunidade eclesial, desempenham igual papel vital no desenvolvimento do indivíduo. Estes grupos oferecem um cenário diversificado onde se podem praticar a colaboração, a liderança, o diálogo, o discernimento, a colaboração, a solidariedade, a escolha do papel a assumir e o espírito de equipa. Em tais ambientes, enfrentamos desafios que nos ajudam a crescer e a desenvolver a nossa resiliência; por exemplo, na perda de um familiar ou amigo, no nascimento de um filho, na celebração de aniversários, na opção por este ou aquele trabalho, na eleição de um ou outro caminho, etc.

Jamais o ser humano surge no mundo como uma tela em branco, mas sim como um livro em branco, pronto para ser preenchido de acordo com as influências genéticas e culturais que o rodeiam, desde o momento do seu nascimento até ao leito da morte. Estas influências, que incluem a carga genética herdada dos pais e os valores inculcados pelo contexto social e cultural, moldam a trajetória de vida de cada indivíduo, desde o início, e ditam, passo após passo, o ser que somos e aquilo que havemos de ser. Baumeister e Leary (1995) argumentam que os seres humanos possuem uma necessidade básica de pertença, o que (nos) motiva a procurar por relações sociais profundas e positivas.

Ao longo do seu percurso, cada pessoa faz parte de diversos grupos – alguns formais, outros informais, mas todos desafiadores e enriquecedores. Dentro destes grupos, os indivíduos têm a oportunidade de desenvolver habilidades sociais e técnicas, adquirindo um conjunto de ferramentas que os capacitam a enfrentar os desafios da vida. Além disso, os grupos proporcionam um espaço para reflexão crítica sobre si mesmos e sobre o mundo ao redor. Por outro lado, através do convívio com os outros membros do grupo, o sujeito amplia seu autoconhecimento e fortalece os seus laços interpessoais, encontrando ali, compreensão, desafio, conforto emocional e apoio mútuo.

Os grupos não são apenas um ambiente de interação social; eles são cruciais para a formação da identidade individual e coletiva. Dentro de um grupo, cada indivíduo contribui com as suas experiências, perspetivas, competências, sonhos, ousadias e habilidades únicas, criando um mosaico diversificado de conhecimento e sabedoria compartilhada. Esta diversidade promove uma compreensão mais ampla e mais aprofunda do mundo, enriquecendo não apenas a vida de cada membro, mas também a comunidade como um todo. De uma forma geral, e de acordo com Freitas e Freitas (2002), podemos dizer que a regra fundamental para que um grupo funcione «é que ele respeite o princípio da interação face a face, ou seja, que todos os grupos tenham a possibilidade de se olharem mutuamente» (p.40).

Além disso, os grupos proporcionam oportunidades para o crescimento pessoal e profissional. Através do apoio mútuo e do estímulo dos pares, os indivíduos são encorajados a explorar novas ideias, a assumir desafios e a procurar os seus objetivos com mais confiança, e mais e maior determinada determinação, aquele valor de que gostava de falar Santa Teresa de Jesus. O feedback construtivo e as diferentes perspetivas oferecidas pelos membros do grupo ajudam a ampliar os horizontes mentais e a promover o pensamento crítico e inovador. Sim, não tenho a menor dúvida de que os grupos também desempenham um papel fundamental na promoção da saúde mental e do bem-estar emocional. Eles são como rios que fluem através das paisagens da vida humana, moldando o terreno individual de cada pessoa e o panorama coletivo da sociedade. Desde o momento do nascimento, somos todos imersos em uma teia de relações interligadas, onde a genética, a cultura e as experiências compartilhadas entretecem o percurso da nossa existência. De facto, a carga genética, herdada dos nossos antepassados, é como um código de barras que nos orienta e influencia desde o início. Junto com os valores histórico-culturais e ético-religiosos do nosso ambiente social, estes elementos formam as bases da nossa identidade e lançam-nos em direção ao futuro, como mancheia de trigo lançada à terra no dia ventoso.

No entanto, assim como uma semente não pode crescer e florescer sozinha, também o ser humano jamais pode prosperar sem a interação com os outros. Os grupos, compostos pelos nossos pares, são como um Carmo (jardim) florido onde podemos florescer e desenvolvermo-nos plenamente. Cada grupo em que nos inserimos, seja ele familiar, social, profissional ou comunitário, oferece um solo fértil para o nosso crescimento pessoal e coletivo. Dentro deles encontramos desafios que nos estimulam a superar os nossos limites e a descobrir novas potencialidades. Além disso, através das interações com os outros membros do grupo, aprendemos a negociar, a colaborar e a resolver conflitos de forma construtiva. Estas habilidades sociais são ferramentas que nos capacitam a navegar pelas águas turbulentas da vida com mais habilidade e mais graça. Os efeitos positivos de aceitação social e da pertença são observados em indivíduos classificados com estilo de afeto esquivo, o que reforça o caráter fundamental e geral de tal motivação (Carvalho & Gabriel, 2006).

Em última análise, a importância dos grupos na vida humana é inegável e irrevogável. Eles são os elos que nos conectam uns aos outros e nos sustentam ao longo da desafiadora jornada da vida – é pela interação com os outros, aliás, nem sempre fácil, que nos tornamos verdadeiramente nós mesmos, descobrindo quem somos, quem podemos ser e a quem pertencemos. São âncoras que nos suportam. Não, não caminhamos sós! Oxalá, portanto, possamos e saibamos celebrar e valorizar os grupos em todas as suas formas, reconhecendo neles uma fonte de riqueza e de vitalidade como seres humanos. Investir tempo e esforço na participação em grupos – neles aprendendo a ganhar e a perder – pode ser uma estratégia eficaz para desvendar e realizar o nosso potencial máximo como indivíduos e como membros da sociedade. Vamos a isso? – Eu aponto-me.

Referências Bibliográficas

Baumeister, R. F., & Leary, M. R. (1995). The need to belong: Desire for interpersonal attachments as a fundamental human motivation. Psychological Bulletin, 117(3), 497-529. doi: 10.1037/0033-2909.117.3.497

Carvallo, M., & Gabriel, S. (2006). No man is an island: The need to belong and dismissing avoidant attachment style. Personality and Social Psychology Bulletin, 32(5), 697-709. doi: 10.1177/0146167205285451

Freitas, M., Freitas, C. (2002). Aprendizagem Cooperativa. Porto: Edições ASA.

Verónica Parente

Educadora Social

O ser humano quando nasce traz consigo uma carga genética que o influenciará em toda a sua vida, mas não só. Ao longo da vida, os grupos servem como redes de apoio emocional. Em momentos de dificuldade, saber que se pode contar com o apoio e a compreensão de outras pessoas pode fazer uma diferença significativa na forma como lidamos com o stress e a adversidade. A solidariedade encontrada nos grupos pode fortalecer o indivíduo proporcionando-lhe a confiança necessária para superar obstáculos e seguir em frente.

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