A «Páscoa de Nossa Senhora»: eis a questão, eis o desafio lançado à nossa ousadia de cristãos! No coração do mês de Agosto, na solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria, celebramos o Trânsito, o “Die natalis”, a Coroação de Maria como Rainha do céu e da terra.
A «Páscoa de Nossa Senhora», a sua participação na «Páscoa de Cristo», foi definida como dogma há 74 anos pelo Papa Pio XII, a 1 de Novembro de 1950, na Constituição Apostólica Munificentíssimus Deus, nos seguintes termos: «Proclamamos, celebramos, definimos, ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, cumprido o curso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória… Como suprema coroa dos seus privilégios foi por fim preservada da corrupção do sepulcro e, tendo vencido a morte como seu Filho, foi elevada em corpo e alma à glória do Céu, onde resplandece como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos».
«Hoje a Virgem Mãe de Deus foi elevada à glória do Céu. Ela é a aurora e a imagem da igreja triunfante, ela é sinal de consolação e esperança para o vosso povo peregrino. Vós não quisestes que sofresse a corrupção do túmulo Aquela que gerou e deu à luz o Autor da vida, vosso Filho feito homem» (Prefácio).
A Igreja, na antífona de entrada da Missa da Vigília da Assunção da Virgem Santa Maria, apresentou o fundamento bíblico da sua exaltação e triunfo: «Grandes coisas se dizem de Vós, ó Virgem Santa Maria, que hoje fostes exaltada sobre os coros dos Anjos e triunfais com Cristo para sempre». A salvação de Deus, realizada na Assunção da Virgem Maria, é a participação na vitória de Cristo sobre a morte: «O templo de Deus abriu-se no Céu e a arca da aliança foi vista no seu templo. Apareceu no Céu um sinal grandioso: uma mulherrevestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça». «Cristo subiu ao Céu e preparou um trono eterno para a sua Mãe Imaculada». «Primeiro, Cristo, como primícias; a seguir os quepertencem a Cristo». «Elevada ao Céu em corpo e alma e exaltada por Deus como Rainha, para assim Se conformar mais plenamente com Seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte» (LG 59).
A vitória de Maria – sobre o pecado e a morte – é sinal de esperança segura e de consolação para todo o povo de Deus, que peregrinando no deserto da história, continua a lutar contra o mal: «A Mãe de Jesus, já glorificada no céu em corpo e alma, é a imagem e primícia da Igreja, que há-de atingir a sua perfeição no século futuro… Já agora na terra Ela brilha, como sinal de esperança segura e de consolação para o povo de Deus peregrino» (LG 68).
A Rainha do Céu louva a Deus pela sua salvação – «a minhaalma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador» –, «porque olhou para a humildade da sua serva» e «a elevou à dignidade de ser Mãe do Verbo Encarnado», porque «o Todo-Poderoso fez em mim maravilhas», porque «exaltou os humildes» (Lc 1, 46-55). Na verdade, Deus «coroa os humildes com a vitória» (Sl 149). Ela é o primeiro membro da Igreja a participar na Ressurreição e Ascensão de Cristo ao Céu, a alcançar a plenitude da salvação. A Sua esperança, plenamente satisfeita – «exaltada em corpo e alma» – é sinal, imagem e espelho da realização da nossa esperança final, da nossa ressurreição e glorificação. «Deus, que nos predestinou, também nos glorificou» (Rm 8, 30).
«Em dia da Assunção da Rainha dos Anjos e Senhora nossa, quis o Senhor fazer-me esta mercê: num arroubamento representou-se-me a Sua subida ao Céu e a alegria e solenidade com que foi recebida e o lugar onde está. Dizer como foi isto, eu não saberia. Foi grandíssimo o deleite que o meu espírito teve de ver tanta glória. Isto causou em mim grandes efeitos e tirei de proveito ficar com mais e maiores desejos de passar grandes trabalhos e de servir a esta Senhora, pois tanto mereceu» (Santa Teresa de Jesus, Vida 39, 26).
Contemplemos, agora no início de Setembro, a glória desta Senhora Nossa, peçamos a sua intercessão, sigamos o seu exemplo, para alcançarmos, depois da nossa caminhada terrena, a morada eterna dos Céus. Lúcia perguntou-Lhe: «E eu também vou para o Céu?».
«Festa da Assunção de Nossa Senhora ao Céu. Meditei sobre a vocação que Deus me deu, que é – o chamamento ao Céu…». «A festa da Assunção de Nossa Senhora é o prelúdio da minha ressurreição, porque eu acredito na promessa de Cristo que n´Ele e por Ele hei-de ressuscitar uma dia para a vida eterna e que, como ressuscitou a Sua e minha Mãe também me há-de ressuscitar como filha do Seu amor, feita uma com Ele» (Venerável Maria Lúcia de Jesus do Coração Imaculado).
Peçamos a Deus, no dia da Assunção e na Eucaristia de cada dia– «a auto-estrada para o Céu» (Beato Carlo Acutis) –, pela intercessão da «bem-aventurada» Virgem Santa Maria a graça de viver na graça de Deus, a graça da «Páscoa eterna», a graça de «ir para o Céu». «Tudo é graça!». «Concedei-nos, por sua intercessão, que, salvos pelo mistério da redenção, mereçamos ser por Vós glorificados». Ou ainda: «Concedei-nos, por intercessão da Virgem Santa Maria, elevada ao Céu, a graça de chegarmos à glória da ressurreição». E também por intercessão da Santa Madre a «alegria da esperança»: «Mais quero viver e morrer a pretender e esperar a vida eterna, que possuir todas as criaturas e todos os seus bens que hão-de acabar. Não me desampares, Senhor, porque em Ti espero; não seja confundida a minha esperança. Sirva-Te eu sempre e faz de mim o que quiseres» (Santa Teresa de Jesus).
A esperança da glória eterna não nos confunde:
«Em breve no Céu formoso eu irei ver-Te
Tu que vieste sorrir-me na manhã da minha vida
Vem sorrir-me de novo… Mãe… chegou a tarde!…»
(S. Teresa do Menino Jesus).
A Venerável Maria Lúcia de Jesus do Coração Imaculado exorta-nos a caminhar para o Céu: «A minha vocação é o Céu». «Para quê o viver na terra senão não é para irmos a caminho do Céu?». «Se ando no caminho do Céu – ao Céu hei-de chegar». «O caminho do Céu é este: cumprir os Mandamentos». Àquela que disse «Sou do Céu!», peçamos-Lhe que «leve as almas todas para o Céu». «A existência do Céu é certa: o Céu existe!».
«O céu é minha morada,
Morada de eterno gozo
Lá sempre serei ditosa
Junto à Mãe Deus amada,
É certo, é certo, o céu é minha morada!
É certo, é certo, o céu é minha morada!».
No nosso Terço, peçamos a Nossa Senhora de Fátima – que disse «Sou do Céu!» – que «leve as almas todas para o Céu».